quinta-feira, 2 de julho de 2009

ÉTICA, SOCIEDADE E CULTURA

Viver na geração atual é experimentar sensações; quanto mais forte e intensa melhor. Nada de sentimento de culpa, nada de bem e mal, nada de valores. Para a geração atual, nada é absoluto, nada é sacrossanto. Tudo é relativo. É como se as coisas se encontrassem num supermercado... Disponível... Que você vai lá e pega. A pós-modernidade atesta a falência dos valores modernos. O conhecimento secular abriu novas perspectivas. Produziu informações... Multiplicou escolas e Universidades... Mas, não resolveu a crise de formação dos intelectuais. A maioria das pessoas está vivendo o modelo de vida apresentado pelas novelas, pelos comerciais de tevê. Nunca tivemos uma indústria de laser tão grande e diversificada, com opções como a TV, a Internet, os esportes, a moda, o turismo, mas a humanidade nunca foi tão triste e sujeita a tanta doença psíquica e emocional. Por isso, embora algumas pessoas digam que na prática, ética e cultura se achem fora de moda eu deixo aqui mais um dos meus textos que tem como tema Ética, Sociedade e Cultura.
Com base no pensamento de OLIVEIRA, Manfredo Araújo, sobre o fato de que “ enquanto ser da liberdade, o ser humano é o ser da decisão” O Prof. Dr. Valério Guilherme Schaper, no seu texto didático sobre Ética, argumenta que como “o nosso mundo é aberto”, “precisa ser modelado pela nossa atividade” . Atividade esta, que na sua totalidade, ele chama de “Cultura”. Segundo ele, “cultura é criação social”, ou seja, “é o resultado de soluções e respostas criativas que indivíduos deram diante de situações que a vida colocou e sua origem está na exteriorização criativa das gerações que nos precederam”. Ao nascerem, os indivíduos, entram em relação com esta exteriorização dada, assimilando-a e contribuindo com novas perguntas e novas soluções. Essas soluções podem ser técnicas ou paradigmáticas.
Por outro lado, quando a cultura passa a exercer um poder coercitivo, os que não compartilham de determinadas normas ou valores são considerados anormais, entrando em cena alguns mecanismos de punição gerando “medo e insegurança”. De maneira, que somente em nome da tradição e na crença forte de que “progresso conduz a um amanhã melhor”, é que a ordem poderá ser legitimada.
Com base, porém, na palestra sobre “ A Ética e a Formação de Valores na Sociedade” ministrada por Leonardo Boff em 12 de junho de 2003, na Conferência Nacional 2003 - Empresas e Responsabilidade Social, promovida pelo Instituto Ethos, em São Paulo, três eixos são fundamentais na crise que afeta todas as sociedades do mundo. O primeiro diz respeito à pobreza, à miséria, ao que podemos chamar de apartação social. Basta lembrar que se desenvolve em todo o mundo um processo devastador de Apartação Social, onde seres humanos gritam querendo viver, participar, e cada vez mais repudiam o veredicto de morte que pesa sobre sua vida. Como exemplo ele cita o Brasil, fazendo um alerta aos empresários no sentido de que encontrem uma saída, de modo que se possa dar um salto de qualidade e gerar um Brasil de “outros quinhentos”, um país com um novo rosto, com mais justiça e inclusão social.
Como segundo eixo, ele cita o sistema de trabalho. Em quase todas as sociedades, há uma grave crise de emprego. Como solução ele sugere que seja criado um outro tipo de relação social de relação com a natureza, de maneira que as pessoas não se sintam excluídas. Tudo isso, segundo ele, suscita um enorme problema ético.
O terceiro eixo da crise, que também levanta questões éticas, está no que se pode chamar de alarme ecológico. A Terra sofre um estresse fantástico em todos os seus Ecossistemas e dois pontos contribuem para esse “estresse fantástico”: a falta de alternativas para a energia fóssil e a crise da água potável. Segundo ele, “é preciso elaborar uma nova benevolência, um novo tipo de relação com a natureza, cujo desenvolvimento não se faça contra ela, mas com ela, e que haja uma percepção de justa medida da escassez de seus recursos. Caso contrário poderemos ir ao encontro do pior”.
Mencionando que os problemas são globais e demandam uma solução global, ele, dá ênfase ao fato de que precisamos de uma nova base para as mudanças necessárias as quais deverão apoiar-se na essência do ser humano já que somos seres racionais. Isso, no entanto, só será possível quando resgatarmos “o eros, o sentimento profundo, como condição mínima para estabelecermos um consenso ético mínimo entre os seres humanos”, A razão não é a base da existência humana, mas aponta o caminho para a afetividade que são Vigor e ternura. Trabalho e cuidado. Empenho transformador e o habitar o mundo com sentimento, poesia, alegria, jovialidade, amizade, amor. É preciso, diz ele, elaborar uma ética do cuidado, que funciona como um consenso mínimo a partir do qual todos possamos nos amparar e desenvolver uma atitude cuidadosa, protetora e amorosa para com a realidade.
Junto com a ética do cuidado impõe-se uma ética da solidariedade. A solidariedade e a cooperação é que permitiram a sociabilidade, o surgimento da linguagem, e definem o ser humano como sócio, como companheiro — filologicamente, aquele que comparte o pão. Somos, portanto, seres de solidariedade.
Finalmente, ele fala da ética da responsabilidade. Essa ética diz o seguinte: ‘“Aja de tal maneira que sua ação não seja destrutiva. Aja de tal maneira que sua ação seja benevolente. Ajude a vida a se conservar, a se expandir, a irradiar”’.
O que eu entendo de tudo isso? Que na realidade, o mundo no qual vivemos é uma rede de relações nas quais o “eu” está inserido e não o contrário. Dessa maneira, precisamos reconhecer quem somos valorizando o meio em que vivemos, marcando procedimentos que deverão ser seguidos para se chegar a resultados justos. É preciso reconhecer, por exemplo, que temos a responsabilidade de preservar a água potável para as gerações futuras. Sabemos, no entanto, que são corruptos aqueles que desviam o dinheiro público e que não podem ser punidos porque não há provas o suficiente para se iniciar o processo.
Por isso, concordo plenamente com o autor, quando ele diz que “se olharmos a magnitude dos problemas, nós nos sentiremos impotentes”. Mas, será que ele também está certo quando diz que “se começarmos conosco mesmos, a mudança que fizermos não ficará restrita a nós”. Espero em Deus que sim. Que “o bem que fizermos contamine”!
Bete Casado

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