segunda-feira, 20 de julho de 2009

OS EFEITOS DO LEGALISMO

“Para Jeílson, pastor de uma igreja muito ativa e crescente, o dia começou como tantos outros. Ao acordar pela manhã, ajoelhou-se ao pé da cama e orou. Logo à mesa do café, começaram as muitas preocupações: notícias da congregação que rejeitava o novo obreiro; problemas com o pedreiro na construção do templo; finanças apertadas. No pequeno alpendre da casa pastoral, mais de uma dezena de irmãos já aguardava aconselhamento. As necessidades eram as mais diversas: ajuda para internar o filho doente; a nova convertida, proibida de participar dos cultos, queria saber como contornar a antipatia do marido; um ancião precisava resolver a situação da aposentadoria... Jeílson enfrentava com certa naturalidade aquele amontoado de dificuldades; seu dia-a-dia já era assim há anos. Ele só não se preparara para a notícia que receberia ainda naquelas primeiras horas do dia. "Miriam, sua filha mais velha", relatou-lhe sua esposa, "cortou o cabelo".

Tudo, menos aquilo. Aturdido, sem acreditar no que lhe acontecera, Jeílson abandonou seus compromissos, deixou todos os irmãos esperando no alpendre e correu enfurecido pelo corredor até chegar ao quarto que ficava nos fundos da estreita casa pastoral. Miriam - constatou ele - aparara de fato as pontas do cabelo. Desde a infância de sua filha, Jeílson jamais permitira que uma tesoura tocasse nas mechas castanhas que agora, aos 18 anos de Miriam, já alcançavam a cintura. Totalmente descontrolado, Jeílson perguntou rispidamente, mas sem esperar resposta: "O que você quer comigo? Está querendo envergonhar-me, acabar com o meu ministério?".

Movido por uma ira descomedida, desafivelou o cinto, dobrou em duas voltas e bateu em Miriam até que os vergões se desenhassem em suas costas e pernas. Envolvido pela mesma ira com que a surrava, desabafou: "Não vou tolerar uma desviada dentro da minha casa. Enquanto você morar aqui, não vou admitir que corte seu cabelo novamente, você está me ouvindo?". Ainda ruborizado e com o coração acelerado, voltou ao alpendre para tratar dos seus assuntos ministeriais.

Duas horas depois, recebeu a notícia mais devastadora de sua vida: Miriam havia derramado álcool sobre todo o corpo e ateado fogo. Jeílson correu mais uma vez, agora desesperado, e encontrou no mesmo quarto sua filha agonizando com queimaduras profundas. Naquele mesmo dia, à tarde, Miriam morreu no ambulatório de um hospital.

Embora os nomes e alguns detalhes da história sejam fictícios, ela é verdadeira. Aconteceu em alguma cidade do Brasil. Pior, ela se repete, claro que sem os mesmos extremos quase todos os dias em alguma família evangélica brasileira. Retrata exatamente a severidade com que algumas denominações brasileiras encaram o problema dos usos e costumes”.

A narrativa acima é do livro do Pr.Ricardo Gondim, “É Proibido: O que a Bíblia permite e a Igreja proíbe”. Nela, vemos a que ponto o farisaísmo pode arrastar a alma humana. Baseado nesta história, desejo fazer algumas considerações acerca do legalismo.

O que é Legalismo? A palavra "legalismo" não pode ser encontrada na Bíblia. É um termo que os Cristãos evangélicos usam para descrever uma posição doutrinária que enfatiza um sistema de regras e regulamentos para alcançar salvação e crescimento espiritual. Em relação à disposição de alguns, legalismo é o contrário de ser gracioso, por isso até crentes podem ser legalistas. Muitos crentes legalistas de hoje cometem o erro de exigir uma aderência inadequada às suas interpretações bíblicas e até mesmo às suas tradições. Por exemplo, alguns acham que para serem espirituais precisam evitar ver novelas, filmes ou ouvir músicas seculares. A verdade é que evitar essas coisas não garante a espiritualidade de ninguém.

Para evitar cair no erro do legalismo, podemos começar a aplicar as palavras do apóstolo Paulo em Romanos 14:4, " Quem és tu, que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está em pé ou cai; mas estará firme, porque poderoso é o Senhor para o firmar.” ou 14:14 que diz: "Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus" .

Antes de darmos prosseguimento ao nosso pensamento, necessário se faz um conselho de precaução aqui. Enquanto precisamos ser graciosos uns com os outros e tolerantes do desacordo sobre assuntos disputáveis, não podemos aceitar heresia. Somos exortados a batalhar pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos (Judas 3). Se nos lembrarmos dessas diretrizes e então aplicá-las em amor e misericórida, estaremos protegidos contra o legalismo e heresia. "Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora. Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo" (1 João 4:1-3).

Qual o motivo dessa minha reflexão? Há dias atrás eu postei aqui, um texto sobre o título “O Valor da Amizade”. No final do texto, como forma de dar ênfase as palavras escritas, foi postado também um vídeo com a música “A Lista” do cantor secular Oswaldo Montenegro, o que foi terrivelmente criticado por uma pessoa que se diz “crente”, nos levando a crer ser tal pessoa totalmente legalista.

E aqui, mais uma vez eu faço minhas as palavras do Pr. Ricardo Gondim: “Quando alguém declara que não ouve `música do mundo´, está afirmando que não reconhece nenhuma pessoa, a não ser os convertidos, com a capacidade de produzir um texto, uma música ou qualquer expressão artística louvável. Essa posição é no mínimo incoerente. Pois essa mesma pessoa lê jornais, revistas, ouve o noticiário e, na escola estuda através de livros escritos por pessoas não cristãs... A própria Bíblia fala de um livro de adágios populares – Povérbios, e nós o reputamos por sagrado”.

E por falar em adágio popular, lembrei-me agora de um velho amigo, empreiteiro na antiga SAELPA, onde eu trabalhei. Esse velho amigo, ensinou-me um adágio que nunca vou esquecer e que diz o seguinte: "O maior prazer de um homem inteligente, é se fazer de idiota, diante de um idiota que se diz inteligente."

Amigos (as)! O Legalismo engana. Muitos pensam que pelo fato de se vestirem de modo diferente ou de se reservarem a ouvir uma música ou assistir um programa de televisão, já compraram a salvação! O que eles não percebem é que ao atuar assim, eles estão se auto-enganando. Ora, se a salvação é de graça e por meio da fé, então toda tentativa de propiciar a Deus no tocante a salvação é heresia e engano. É claro que o cristão deve procurar se vestir adequadamente, pois a santidade inclui sim nosso corpo, mas pensar que o fato de usar saia comprida ou não cortar o cabelo ou não ouvir músicas secular ou não ver TV, lhe faz mas santo que o seu irmão, é burrice. Santidade não é um conjunto de praxes exteriores: é uma vida com Cristo, refletindo ao mundo o seu caráter.

O Legalismo cega. Veja, o caso do pai da moça, supra citado. Ao receber a notícia de que sua filha tinha cortado o cabelo, foi cegado por seu ódio xiita contra tudo aquilo que ele considerava mundanismo. Assim, armando-se de um falso zelo cristão, e ignorando totalmente o mandamento do amor, espancou gravemente a filha. Uma das maiores características do legalista é a ausência de misericórdia no seu coração. Observe o caso da mulher apanhada em adúltério, por exemplo: a turba enfurecida, além de expor a adúltera ao rídículo, arrastando-a pelas ruas da cidade, ainda queriam apedrejá-la até a morte.

Tenho certeza que Jeílson, ao espancar sua filha, pensava que estava fazendo o correto e que era respaldado pela bíblia. Ele era um homem "da bíblia", e podia citar uma série de versículos em cadeia temática para justificar sua atitude, mas era incapaz de amar, compreender e simplesmente perdoar (ainda que, para fins práticos, sua filha não havia cometido nenhum pecado).

O Legalismo mata. Foi ele quem matou a jovem de 18 anos. Não quero entrar na questão do suicídio, e da salvação ou condenação da menina. Deixo isso aos meus amigos fariseus, que são verdadeiros experts em teologia, principalmente no tocante a condenação de todos aqueles que não rezam segundo a sua cartilha de usos e costumes estereotipados. O fato é que, no caso narrado, foi o legalismo quem desencadeou a série de eventos que deu origem a morte da jovem. Este é o caminho inevitável do legalismo: ele conduz a morte. Morre o pregador legalista, em seu equivocado senso de auto-justiça, com uma falsa idéia acerca de si mesmo. Morrem também os seus ouvintes, que acabam comprando essa falsa idéia acerca de Deus, sendo levados em multidão a crer no Deus errado.

Quantos jovens que, semelhantes à moça do texto, foram gravemente feridos na alma por causa de pregações legalistas, do tipo toma-lá-da-cá, nas quais a salvação é obtida mediante o esforço do crente, sendo obrigados a vestir-se como o talibã, tendo seus gostos, sua autonomia, personalidade e vontade claramente violadas, tudo por causa do achismo de pastores que se acham infalíves, que se crêem a última bolacha do pacote e a boca de Deus na terra? Há toda uma geração de desviados das igrejas por causa destas coisas. Hoje estão apartados de Cristo, perdidos no mundo, enfim, mortos! E foi a igreja (instituição) que os matou. A arma do crime? Farisaísmo!

Meus amados amigos (as), em especial os irmãos em Cristo, não estou aqui como dona absoluta da verdade. Sei que erro muitas vezes, e em muitas coisas, e não peço subserviência a minha pessoa, nem que acatem incondicionalmente as minhas idéias.

Este blog, no entanto, foi construído sob a égide do livre-pensamento iluminado pelo Espírito Santo, de modo que a intenção não é impor nada, e sim suscitar o debate acerca das nossas praxes eclesiásticas. Por outro lado, sei que algumas denominações possuem usos e costumes como parte da sua tradição, mas entendo que, à luz da bíblia, a ênfase exagerada em tais práticas transformando-as em meios da graça é prejudicial e herética.

Vamos, portanto, repensar a nossa fé! A reforma não é obra acabada. Sempre há algo novo para aprender, refletir e mudar.
Shalom!!!
Elisabete Casado.

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